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quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Direção: Matthew Vaughn

EUA, 2010


Quem já quis ser um super-herói? Melhor dizendo: quem nunca quis ser um super-herói (ou, vá lá, um super-vilão)? Por mais pueril que a ideia seja, todos já se imaginaram tendo alguma habilidade excepcional, como voar, ler pensamentos ou visão de raio-x (mesmo que fosse só para espiar aquela vizinha gostosa). Mas a realidade é cruel e ninguém tem qualquer dom super-humano (pelo menos por enquanto).

Não que isso seja um empecilho para Dave Lizewski (Aaron Johnson, de “O garoto de Liverpool”). Dave é um daqueles losers clássicos do cinema americano: um jovem nerd que tem poucos amigos e nenhuma namorada. Órfão de mãe, mora com o pai e um de seus principais hobbies é se masturbar vendo imagens sensuais na internet. (Lembrando que, quando você é adolescente, o conceito de “sensual” é bem abrangente.)

Aficionado por quadrinhos, Dave não entende por que nunca alguém pensou em vestir uma fantasia e sair combatendo o crime. Assim, resolve ser o primeiro e, com um traje de mergulho comprado no eBay, adota o nome de Kick-Ass.

Sentindo-se preparado, mesmo não estando nem um pouco, já em sua primeira “missão” ele descobre que as coisas não serão fáceis. Ao tentar impedir um assalto, é surrado, esfaqueado e atropelado. Depois disso, muitos desistiriam, mas não Dave.

Passa meses no hospital, onde médicos colocam placas de metal no seu corpo (que aumentam sua resistência à dor). Recuperado, parte em nova investida, na qual não é plenamente bem-sucedido, mas ao menos consegue atrair vários curiosos, que, munidos de celulares, gravam em vídeo sua performance e não tardam a divulgá-la na internet, transformando-o em um ícone.

Nas mãos de um diretor menos talentoso – e, por que não dizer?, corajoso -, “Kick-Ass”, adaptação homônima da HQ de Mark Millar e John Romita Jr., lançada em 2008, viraria um filme infantil com uma mensagem edificante. Porém, o que o inglês Matthew Vaughn (que mais tarde dirigiria “X-Men: Primeira classe”) exibe aqui é um verdadeiro tratado do pop.

Das referências à trilha sonora, tudo é acessível à Geração YouTube (o site, aliás, tem importância vital na trama), aquela acostumada a ver (e saber) as coisas na hora em que acontecem.


Embora o personagem principal seja Dave, a alma do filme se encontra em outros dois: Hit-Girl e Big Daddy. Interpretados por Chloë Grace Moretz e Nicolas Cage (este último em um papel bacana como há muito não se via em sua carreira), eles são heróis de verdade, com treinamento, agilidade e precisão, além de um arsenal completo (ou seja, tudo que Kick-Ass não tem). O espectador mais sensível talvez se choque ao ver uma garotinha de cerca de dez anos falando palavrões enquanto mata e mutila homens com o triplo de seu tamanho. Mas quem estiver no estado de espírito adequado, além de se divertir, verá que por trás de toda aquela violência há uma história de genuíno amor de pai e filha.


Além do trio, convém citar o mafioso Frank (Mark Strong, de “Sherlock Holmes”), e seu filho Chris (Christopher Mintz-Plasse, o McLovin de “Superbad”), cujos caminhos inevitavelmente cruzarão o dos heróis, de uma forma da qual nenhum deles sairá ileso.


Apesar dos já citados elementos pop, “Kick-Ass” é cinema de verdade, uma obra cheia de sentimento que merecia mais destaque do que de fato teve.


Por Leilson de Souza (@NostalgiaNao)

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