Caros amigos, cinéfilos e visitantes. O Estranhezas Cinematográficas (@cinemaestranho), mais uma vez, está de volta, só que dessa vez para ficar e com novidade. Nossa equipe (antes só o Léo Castelo Branco) agora ganhou um reforço, e já era tempo. Leilson de Souza é fã de cinema em todas as suas vertentes, ligado nas redes sociais e está iniciando nas criticas cinematográficas.
E não é que ele surpreendeu? Na sua estreia, faz uma bela análise dos 3 filmes da consagrada série B “Evil Dead”. Leia abaixo e se surpreenda também:
The Evil Dead - A Morte do Demônio (1981)
Cinco jovens vão passar alguns dias em uma cabana na floresta e são atormentados – para dizer o mínimo – por forças do mal. Não parece clichê, é. Mas nunca um clichê foi revirado com tanta energia e criatividade como em “Evil Dead” (“A morte do demônio”, no Brasil), de 1981. Estreia na direção de um ex-ajudante dos irmãos Coen, o jovem Sam Raimi (com pouco menos de 22 anos na época), e estrelado pelo carismático canastrão Bruce Campbell, este clássico do gore é uma demonstração de que se pode fazer um (bom) filme com pouco dinheiro.Ao contrário de suas seqüências, essa parte não tem humor e investe em um horror gráfico e exagerado. O que se vê na tela é sangue e espertos truques de câmera. Ah, sim, antes que me esqueça, a história: Ash (Campbell), sua namorada, Linda (Betsy Baker), sua irmã e um casal de amigos (cujos nomes não fazem a menor diferença) vão passar um final de semana em uma casa no meio do mato (alerta de clichê!) e acabam encontrando pertences de um arqueólogo, entre eles o “Livro dos Mortos” sumério e uma fita cassete com trechos narrados deste último. É claro que, ao contrário do que o bom senso recomendaria (bom senso? Num filme de terror? Sério?), eles tocam a tal fita, o que provoca o despertar de ferozes entes demoníacos (que, claro, o espectador nunca vê; pouco dinheiro, lembra?). Daí pra frente é uma sucessão de coisas grotescas, que incluem desmembramentos, cabeças falantes e árvores estupradoras.Sem dar um minuto de fôlego ao azarado Ash, a insanidade prossegue até o último minuto, deixando o público esperando a (inevitável?) continuação. Resumindo: “Evil Dead” é obrigatório – e isso, sim, é clichê – para os verdadeiros fãs de horror, porém altamente contra-indicado a pessoas sensíveis e estômagos fracos.
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The Evil Dead 2 - Uma Noite Alucinante 2 (1987) Dir: Sam Raimi
Ao contrário do que dizem os críticos mais chatos (ou desatentos), “Evil Dead II” (“Uma noite alucinante 2”, no Brasil), de 1987, não é um mero upgrade do primeiro filme. Olhando com mais atenção, percebe-se claramente a intenção do diretor (novamente Sam Raimi) de usar os primeiros minutos como um resumo dos eventos anteriores (eliminando tudo que fosse supérfluo). Aqui, Ash (Bruce Campbell), depois de se livrar da endemoniada namorada Linda, ser ele mesmo possuído e ter problemas até com a própria mão, é surpreendido pela chegada de Annie, filha do professor Knowby (o arqueólogo dono da cabana, para quem não se lembra), e de um colega dele, além de outras pessoas. A primeira impressão que Annie tem é de que Ash é um assassino, o que faz com que ele logo seja confinado no porão, onde entra em cena Henrietta, esposa morta-viva de Knowby e também uma das criaturas mais pavorosas já vistas (por mim, claro) no cinema. Desfeitos os mal-entendidos, tem-se a seguir uma mistura de comédia de humor negro com pastelão (sem esquecer do horror, evidentemente), com destaque para os muitos litros de sangue (verde) e a já icônica imagem de Ash com a motosserra afixada ao braço. (Falando nisso, aqui vai uma curiosidade: a cena do chafariz de sangue vindo da parede é uma homenagem a “A Hora do Pesadelo” (1984), de Wes Craven.). Aqui também descobrimos que o verdadeiro nome do “Livro dos Mortos” é “Necronomicon” (foi “emprestado” da obra de H.P. Lovecraft). Mas enfim, este filme, se não inaugurou o gênero “terrir”, ao menos tornou Raimi um dos seus maiores expoentes, além de nos proporcionar quase 1h30min do mais puro cinema fantástico (e trash).
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Army of Darkness: Evil Dead 3 - Uma Noite Alucinante 3 (1992)
O ano era 1992. Ninguém esperava outro “Evil dead” (mesmo porque ainda não havia internet para nos informar desse tipo de coisa). Mas Sam Raimi surpreendeu e lançou “Army of Darkness” (“Uma noite alucinante 3”, no Brasil), continuação direta das aventuras – ou seriam agruras? – de Ashley “Ash” Williams (sim, esse é o nome dele, apesar de nunca ter sido citado). Como visto no fim do longa anterior, ele é transportado à Idade Média e, como sempre, tratado como um elemento hostil. Depois de provar seu valor, o que implica em destruir um desmorto, Ash é aclamado e, com ajuda do Sábio, conselheiro de Lorde Arthur (“lorde”, não “rei”) descobre um meio de voltar a sua época. Como não poderia deixar de ser, esse meio envolve o famigerado Necronomicon. E lá vai o anti-herói uma vez mais se embrenhar na floresta, onde se depara com antigas e novas ameaças (o que inclui uma contraparte maligna, o “Evil Ash”). Chegando ao livro, Ash deve recitar 3 palavras mágicas (“klaatu barada nikto”, tiradas de “O dia em que a Terra parou”, de 1951) para poder manuseá-lo com segurança. Mas erra a última e provoca o despertar do tal “exército dos mortos” do título. Devido ao excesso de humor (e a quase total ausência de bizarrices como as dos anteriores), esse é considerado um filme “menor”, quase uma “Sessão da Tarde”. Eu, particularmente, vejo como uma conclusão bem digna da série, que põe no bolso muito blockbuster feito hoje. Em tempo: se puder, procure o desolador (e muito mais engraçado) final original.
* Por Leilson de Souza (@NostalgiaNao)