Se você já viu mais de uma dezena de filmes de Hollywood, sabe como as coisas funcionam: heróis improváveis, vilões megalomaníacos e aquela boa dose de destruição em câmera lenta.
A Casa Branca sendo explodida? Já vimos. A Estátua da Liberdade afundando? Normal.
Mas o que acontece quando o alvo não são os monumentos, e sim o próprio conceito de "América"? É aí que Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, tenta sair do óbvio – e acaba te deixando desconfortavelmente reflexivo.
Do que se trata o filme?
Guerra Civil nos transporta para uma versão distópica do presente, onde os Estados Unidos foram fragmentados por disputas políticas e um presidente autoritário que insiste em permanecer no poder.
Não há aliens, robôs ou meteoro gigante; aqui, o inimigo é interno. Mas, em vez de explicar como chegamos a esse caos, Alex Garland prefere jogar você direto no meio da bagunça.
A história acompanha um grupo de jornalistas liderados por Lee (Kirsten Dunst), uma fotógrafa renomada e endurecida pelas batalhas, e Joel (Wagner Moura), seu parceiro fiel e cínico. Eles se juntam a Jessie (Cailee Spaeny), uma novata cheia de esperanças, e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um repórter veterano em busca de sua última grande história.
Juntos, eles embarcam em uma jornada pelo leste dos Estados Unidos para documentar o que restou de um país devastado.
Por que este filme é diferente?
Guerra Civil não se preocupa em dar respostas ou tomar lados. Não espere um roteiro que explique como tudo começou ou defina heróis e vilões. Em vez disso, o filme quer que você sinta como seria viver em um cenário de guerra moderna – e, spoiler, a sensação não é nada agradável.
Os personagens também refletem esse desconforto. Lee, interpretada com brilhantismo por Kirsten Dunst, é uma veterana calejada, emocionalmente blindada pelas atrocidades que já presenciou.
Jessie, por outro lado, ainda tem aquela ingenuidade de quem acredita que pode mudar o mundo com uma câmera. Mas à medida que o filme avança, todos eles – e talvez você também – começam a se perguntar: ainda faz sentido se importar?
Momentos para ficar de olho
Cinematografia brutal e bela: Alex Garland mistura realismo documental com um visual impactante, criando cenas de tirar o fôlego – mesmo quando são dolorosamente brutais.
Humor sombrio e irônico: Apesar do peso da narrativa, há momentos de alívio cômico, geralmente vindos da interação entre os jornalistas. O sarcasmo deles é a única forma de sobreviver ao absurdo do que vivem.
Reflexão sobre empatia: O filme te força a questionar sua própria relação com a violência. Será que estamos tão acostumados a ver imagens de destruição que já não sentimos mais nada? É aí que reside a provocação mais profunda de Guerra Civil.
Vale a pena assistir?
Se você gosta de filmes que te fazem pensar – e não necessariamente entregam respostas prontas – Guerra Civil é uma experiência imperdível.
Mas, se você prefere narrativas lineares e finais que amarram todas as pontas, talvez fique frustrado. O filme é mais sobre observação e reflexão do que sobre ação e soluções.
Ainda assim, é uma obra que merece ser vista, nem que seja para admirar as performances incríveis de Kirsten Dunst e Wagner Moura, e para se questionar sobre o que significa realmente "ver demais" em um mundo que vive nos bombardeando com imagens de destruição.
Um filme para pensar – e talvez sentir desconforto
Guerra Civil não é para todos, mas talvez seja exatamente o filme que precisamos em tempos de polarização e cansaço emocional.
Ele não oferece soluções, mas nos convida a olhar para a guerra – e para nós mesmos – de um jeito diferente.
E, se depois de assistir você sair com mais perguntas do que respostas, o filme já terá cumprido seu papel.
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