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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Curtinhas de Léo Castelo Branco - Parte 4 - Os clássicos

Viciados em cinema, apaixonados pelas películas e analfabetos funcionais Léo Castelo Branco está de volta dissecando mais obras cinematográficas para vocês. Depois de uma overdose do gênero fantástico, era preciso dar um tempo. Mudar um pouco os ares.

Hoje vou falar sobre alguns clássicos, novos e antigos, que marcaram minha última sessão. São eles “Um Estranho no Ninho”, “Mississipi em Chamas” e “Cisne Negro”. 3 grandes obras, uma de cada geração. Se você já as viu é um verdadeiro admirador dos verdadeiros clássicos, se não viu leia as resenhas e não perca tempo, aproveite que o final de semana está chegando.

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Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, EUA, 1975)


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A vida como ela é+Jack Nicholson e Louise Fletcher inspirados+entrega total do elenco e produção= uma das maiores obras da sétima arte

Uma obra quase real. Na minha visão, apenas saber desse fato já valeria para ver “O Estranho no Ninho” com outros olhos, mais aguçados. Não bastasse isso, o filme é simples e genial, realmente fora de série. Se todas essas qualidades ainda não lhe convenceram, essa obra do diretor Milos Forman e produzida por Michael Douglas e Saul Zaentz pode ser vista tanto pela ótica da comédia , como pela dramática. Baseado no livro de Ken Kesey, que o escreveu através de experiências vividas em manicômios de verdade, “O Estranho no Ninho” é um filme muito próximo da realidade. Na história o condenado Randle Patrick McMurphy (Jack Nicholson) se passa por louco para evitar trabalhar no campo e acaba sendo transferido para um manicômio, onde vai alterar a rotina dos presentes e entrar em conflito com as rígidas normas de controle estabelecidas pela instituição e seguidas à risca pela enfermeira Mildred Ratched (Louise Fletcher). Jack Nicholson está sublime e sua atuação é o fio condutor que transforma as páginas do livro em imagens no cinema, atuação essa que lhe rendeu a estatueta de melhor ator no ano de 1976. Só por ele o filme já seria excepcional, mas o roteiro de Bo Goldman e Lawrence Hauben desenvolve uma dezena de personagens que são fundamentais nos argumentos da estória. Durante todo o filme é difícil ver uma atuação isolada, porque cada um tem o seu brilho e um “louco” da o tom para outro, como uma família em perfeita sincronia. Vale citar a atuação dos ainda novinhos Brad Dourif, Danny De Vito e Christoper Lloyd que mais tarde viriam brilhar em outros clássicos em nossas telinhas e telonas. Reza a lenda que Jack Nicholson se internou durante 2 meses em um hospício para construir cada detalhe do personagem. Não sei o que ele fez, mas deu certo. O seu MacMurphy está nos detalhes e em atitudes inesperadas, desde bater na mesa do diretor da instituição como quem mata uma mosca até o modo como ele cativa os demais. No fim o que fica é que todos nós somos “loucos”, cada um tem suas manias, alternamos momentos alegres e tristes. Essa é lei da vida, e em “O Estranho no Ninho” ela é mostrada de várias formas, por isso essa obra prima da sétima arte está tão próxima da realidade. Se você não viu, comece a duvidar do seu gosto pelo cinema.

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Mississipi em Chamas (Mississipi Burning, EUA, 1988)

* Direção segura+trilha marcante+pouca inovação= um clássico controverso

Esse com toda certeza é o mais contraditório dessa edição das Curtinhas de Léo Castelo Branco. Tive 2 impressões com esse filme, uma boa e outra ruim, mas vamos por partes. Assisti “Mississipi em Chamas” quando era mais novo e ingênuo, ainda no colégio, quando estudávamos sobre o preconceito. Na época o adorei e idolatrei. Ao assistir pela segunda vez, agora madurecido me surgiram algumas dúvidas, que contarei após lhes apresentar a sinopse desse controverso clássico. “Mississipi em Chamas” se passa em uma cidade no Sul dos EUA, nos anos 60, época que a KKK estava a pleno vapor. Na cena de abertura dois jovens brancos e um negro são perseguidos em alta velocidade, depois de muita correria eles vêem que é a polícia e param. Um homem branco aparece e após falar “Você já está com o cheiro dos negros, judeuzinho” atira sem pestanejar na cabeça do rapaz branco que estava no volante. E assim os créditos aparecem na tela, juntamente com a certeza que vem chumbo grosso pela frente. O FBI é chamado para resolver o crime, os agentes Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willian Dafoe) vão até o local e sustentam um clichê de um jeito pouco disfarçado (aí começaram os meus questionamentos). Rupert é mais caipira e não gosta de sempre agir de acordo com as regras para fazer justiça, já Ward é mais centrado e certinho (leia-se almofadinha). Logo na primeira cena dos dois, o diretor Alan Parker (“O Expresso da Meia Noite”) mostra que a convivência entre eles não vai ser das mais fáceis, até que descubram que tem mais do que pensam em comum e se unam de verdade para fazer o bem. Clichê, né? Basta lembrar de Riggs e Murtaugh, a dupla explosiva de “Máquina Mortífera” que no início tinha um comportamento parecido e depois de “se resolverem” se transformaram em uma dupla de tiras perfeitos. Não que não goste de “Máquina Mortífera”, pelo contrário, gosto muito, mas em “Mississipi em Chamas”esperava algo fora dos padrões, até porque o tema escolhido era muito pouco explorado na época. Outro detalhe negativo que me chamou a atenção nessa revisão foi à passividade dos negros da cidade, nunca tentavam nada e quando tentavam era apenas superficial. O filme esquece de retratar os processos de mobilização negra que já explodiam nos EUA e Martin Luther King só é citado em piadas racistas dos sulistas. No final, resta ao FBI dos homens brancos salvar a pátria, e cá entre nós, na vida real e na época essa instituição demonstrava ter outros interesses. Mas como afirmei no começo, não é só de coisas ruins que é feito “Mississipi em Chamas”, para mim aliás ele continua um clássico intacto, dentro das suas limitações é claro. A direção firme de Parker leva o espectador de fato a viver a experiência de sentir-se em uma cidade do sul dos EUA nos anos 60, em alguns momentos chega a dar claustrofobia o exagero de detalhes e o clima que vai ficando cada vez mais tenso para os agentes do FBI. A trilha que não fica mais de 5 minutos sem aparecer é assombrosa, uma batida sequencial que parece saída de uma roda de macumba é capaz de deixar os ânimos ainda mais aflorados. As cenas de violência são muito bem feitas e estão presentes durante todas às 2 horas da fita, o que reforça o sadismo da KKK. Entre mortos e feridos,“Mississipi em Chamas” é um clássico que merece respeito, acima de tudo pela direção sempre segura de Alan Parker e também pelas cenas de ação bem fortes e bem construídas. Mas, na minha opinião, poderia pegar mais na ferida e tocar ainda mais o espectador para esse problema que ainda hoje é presente.

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Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010)

*Estilo Darren Aronofsky+Natalie Portman divina+ detalhes inquietos= Um novo clássico

Um passeio doentio pelas dores e prazeres de seus personagens. Assim poderia ser descrito o trabalho do diretor americano Darren Aronofsky, que também é perturbador sem deixar de ser vibrante. Apesar de não ser um profundo conhecedor da sua obra, o pouco que conheço já me faz admirá-lo como poucos. E “Cisne Negro” foi fundamental para essa admiração aumentar. Confesso que não estava com a mínima vontade de ver, imaginei que fosse um drama chato e repetitivo. Fui convencido pela minha namorada que sabe muito bem reconhecer aquele filme que se sobressai quando vê um, então fomos lá ver o que para mim ainda era inesperado. O resultado foi surpreendente, muito acima do esperado. Na história,bailarina (Natalie Portman) se vê de frente com a oportunidade de interpretar o papel principal de “Lago dos Cisnes”, escrito por Mark Heyman, Andres Heinz e John J. McLaughlin, mas ela terá mostrar seu lado negro, além do angelical que já tem, para poder ser a estrela do espetáculo. A obra mostra, de maneira sublime, cada passo dessa transformação, nada se perde na câmera de Aronofsky que capta cada lágrimas, sorrisos, o sofrimento do treinamento (em cenas que chegam a dar agonia), o sabor da vitória e da derrota, a inveja das outras bailarinas e a obsessão da mãe. Tudo isso retratado nos mínimos detalhes. É praticamente como se sentíssemos as mesmas sensações da protagonista. Natalie Portman aqui vive sua melhor atuação, a estatueta que levou foi mais que merecida. A sua transformação nesse personagem lembra o McMurphy de Jack Nicholson citado acima em “O Estranho no Ninho”, claro que são mudanças diferentes, mas com a mesma intenção: levar o espectador ao limite. “Cisne Negro” é um filme que mostra os dois lados, seja a dor ou prazer, a vitória ou a derrota, de um jeito muito detalhista e vezes sombrio. O melhor filme que vi nos últimos tempos sem sombra de dúvidas, e como o propósito desse post era falar de clássicos, esse é um da nova geração. Mesmo lançada recentemente, a obra de Darren Aronofsky já se eternizou. E o Oscar não tem nada haver com isso.

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Texto escrito por Léo Castelo Branco (@leocastelob)

2 comentários:

  1. Que curtinha extraordinááááário!
    Degustação de sensações e pensamentos que retornaram só de ler.Se não houvesse visto todos, iria me internar no sofá já!Parabéns!

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  2. Muito bom....Assisti Um Estranho no Ninho e Cisne Negro agora me sinto na obrigação de assistir Mississipi em Chamas....Adorei seu curtinha!

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